PROGRAMA DE RECURSOS NATURAIS E SUSTENTABILIDADE - PRNS-MICROBACIAS.

22/04/2025 Diniz Dias Dôliveira

O futuro da agricultura Paranaense sob o foco da extensão rural e Intensificação da produção.

Na década de 70, o estado do Paraná vivenciou uma transformação significativa na sua agricultura. Após a geada de 1975, que causou danos extensivos e levou a uma reavaliação das práticas agrícolas, houve um esforço para diversificar as culturas e aumentar a produção de alimentos. Essa expansão foi alcançada com a adoção de tecnologias intensivas, incluindo o uso de agroquímicos, sementes geneticamente modificadas e técnicas de cultivo avançadas.

No entanto, esse crescimento não veio sem custos. O uso intensivo de agroquímicos levou a uma série de problemas ambientais e de saúde, como a poluição do solo e da água, o declínio da biodiversidade e o surgimento de novas pragas e doenças que se adaptaram aos ambientes modificados. A degradação e a erosão do solo também se tornaram questões preocupantes, afetando a sustentabilidade da agricultura a longo prazo e comprometendo o abastecimento de água.

Esses desafios revelam a complexidade da modernização agrícola e a necessidade de encontrar um equilíbrio entre aumentar a produtividade e preservar os recursos naturais. O Paraná, como muitos outros estados e regiões agrícolas, teve que lidar com as consequências dessas mudanças e buscar formas de mitigar os impactos negativos enquanto continua a atender a demanda crescente por alimentos.

A Revolução Verde, que ocorreu principalmente na segunda metade do século XX, marcou uma transformação significativa na agricultura global. A introdução de novas variedades de culturas, raças pecuárias, fertilizantes inorgânicos, pesticidas manufaturados e maquinários avançados levou a aumentos substanciais na produção de alimentos. No entanto, esse modelo agrícola também trouxe desafios, como a degradação ambiental, a resistência de pragas e o esgotamento dos recursos naturais.

Para enfrentar esses desafios e garantir a sustentabilidade a longo prazo, é fundamental adotar um enfoque integrado que combine o manejo de pragas com sistemas agroecológicos. A intensificação sustentável busca equilibrar a produtividade agrícola com a preservação ambiental, promovendo práticas que restauram serviços ecossistêmicos e minimizam os custos.

Os sistemas agroecológicos, ao incorporar princípios como a diversidade de culturas, a rotação de culturas, o uso de predadores naturais e a gestão integrada de pragas, oferecem uma alternativa mais sustentável ao modelo tradicional. Essas práticas ajudam a criar um ambiente mais resiliente e equilibrado, que não apenas melhora a saúde do solo e a biodiversidade, mas também reduz a dependência de insumos químicos e diminui os impactos ambientais.

Portanto, a intensificação sustentável deve integrar esses elementos para alcançar uma produção agrícola que seja produtiva, econômica e ambientalmente responsável.

Essa intensificação da agricultura, com o foco em aumentar a produção e a eficiência, resultou em consequências ambientais negativas, como a degradação do solo, poluição da água, e perda de biodiversidade. Esses problemas ambientais, por sua vez, afetaram a qualidade e a sustentabilidade das próprias práticas agrícolas.

O custo desses danos se reflete não apenas na deterioração dos recursos naturais, mas também em impactos econômicos e sociais. A necessidade de reparar ou mitigar esses danos pode exigir investimentos significativos e afetar a rentabilidade das práticas agrícolas convencionais. Além disso, a degradação dos serviços ecossistêmicos, como a polinização e a regulação do clima, compromete a capacidade dos sistemas agrícolas de se manterem produtivos a longo prazo.

Diante desses desafios, surgem apelos crescentes por uma abordagem mais sustentável à agricultura. Isso inclui práticas como a agricultura de conservação, o manejo integrado de pragas, e a agroecologia, que visam reduzir o impacto ambiental e melhorar a resiliência dos sistemas agrícolas. A transição para uma agricultura mais sustentável pode ajudar a equilibrar a necessidade de produção com a preservação dos recursos naturais e a proteção dos serviços ecossistêmicos essenciais para a continuidade da agricultura.

A intensificação sustentável é um conceito crucial na agricultura moderna, focando na melhoria dos resultados ambientais sem comprometer a produtividade. Ela busca otimizar os processos agrícolas de maneira a aumentar a eficiência e a sustentabilidade, promovendo um equilíbrio entre a produção de alimentos e a preservação ambiental.

Esse conceito envolve a implementação de técnicas e práticas que integram melhor os componentes dos sistemas agrícolas e o manejo das paisagens. A ideia é criar sinergias entre diversos elementos do sistema agrícola, como o solo, a água, as culturas e a biodiversidade, para melhorar a saúde ecológica e a produtividade ao mesmo tempo.

No contexto dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, a intensificação sustentável se torna uma prioridade porque aborda diretamente questões de segurança alimentar, conservação dos recursos naturais e mitigação das mudanças climáticas. Em vez de se concentrar apenas nas técnicas utilizadas, a intensificação sustentável foca nos resultados e impactos gerais do sistema agrícola, buscando uma abordagem mais holística e integrada.

Em resumo, a intensificação sustentável procura encontrar um equilíbrio entre aumentar a produção agrícola e garantir que essa produção seja ambientalmente responsável e benéfica para a sociedade.

A Intensificação não predetermina as tecnologias, o tipo de produção ou os componentes de redesenho que podem ser distinguidas das manifestações anteriores de intensificação devido à ênfase explícita num conjunto mais amplo de resultados ambientais e socialmente progressivos. Nenhum sistema projetado terá sucesso para sempre e nenhum pacote único de práticas é capaz de se adequar à dinâmica de cada ecossistema. Para se ajustar a intensificação foram propostas três fases não lineares na transição para a sustentabilidade: eficiência, substituição e redesenho. A intensificação, conforme descrito, refere-se a um processo de aprimoramento que não define previamente as tecnologias, os tipos de produção ou os componentes específicos de redesenho que se diferenciam das manifestações anteriores de intensificação. O foco está em um conjunto mais amplo de resultados que são ambiental e socialmente progressivos. Isso significa que, em vez de seguir um caminho fixo ou um pacote único de práticas, a intensificação exige uma abordagem mais flexível e adaptativa.

A transição para a sustentabilidade pode ser vista como um processo não linear que se desdobra em três fases principais:

Eficiência: Nesta fase, o objetivo é melhorar a eficiência dos processos existentes, reduzindo o desperdício e otimizando o uso de recursos. A ênfase está em fazer mais com menos, melhorando o desempenho ambiental e econômico dos sistemas atuais.

Substituição: Após alcançar um nível de eficiência, a próxima fase envolve a substituição de práticas, produtos ou tecnologias que são insustentáveis por alternativas mais sustentáveis. Isso pode incluir a troca de materiais, mudanças nos métodos de produção ou a adoção de novas tecnologias que minimizam o impacto ambiental.

Redesenho: A fase final é o redesenho, onde se busca transformar os sistemas e processos de maneira fundamental. Em vez de apenas ajustar ou substituir componentes, esta etapa envolve uma reconfiguração completa dos sistemas para criar soluções inovadoras que atendam melhor aos critérios de sustentabilidade de forma holística.

Essas fases são vistas como não lineares porque a transição para a sustentabilidade não segue um caminho rígido e linear; pode haver sobreposições, interações e ajustes contínuos à medida que novos desafios e oportunidades surgem. A adaptabilidade e a abordagem integrada são essenciais para lidar com a complexidade dos ecossistemas e alcançar resultados progressivos e sustentáveis.

Embora tanto a eficiência como a substituição sejam importantes, não são suficientes para maximizar a produção de resultados agrícolas favoráveis e ambientais benéficos sem que o redesenho seja aditivo e incremental. Nos atuais sistemas de produção a reformulação deverá ser a mais transformadora. A eficiência e a substituição de práticas ou insumos são passos importantes para melhorar a produção agrícola e minimizar impactos ambientais. No entanto, por si só, esses ajustes podem não ser suficientes para enfrentar os desafios atuais de sustentabilidade e produtividade. Para alcançar resultados verdadeiramente transformadores, é necessário um redesenho aditivo e incremental dos sistemas de produção.

Redesenho Aditivo e Incremental
Redesenho Aditivo: Este conceito se refere à adição de novas práticas, tecnologias e estratégias que complementem e aprimorem as abordagens existentes. Por exemplo, a integração de tecnologias avançadas como sensores de precisão e sistemas de monitoramento pode ser adicionada ao manejo tradicional para otimizar o uso de recursos e melhorar a produtividade.

Redesenho Incremental: Trata-se de realizar mudanças graduais e contínuas, em vez de transformar o sistema de uma só vez. Essas mudanças podem incluir ajustes no manejo do solo, técnicas de cultivo e rotação de culturas, sempre com o objetivo de melhorar o desempenho ao longo do tempo. A abordagem incremental permite que os produtores testem e ajustem novas práticas sem riscos abruptos.

A Reformulação Transformadora
Para que a reformulação seja verdadeiramente transformadora, ela precisa abordar os seguintes aspectos:

Integração de Tecnologias: Adotar tecnologias inovadoras que podem aumentar a eficiência e a sustentabilidade, como a agricultura de precisão, uso de drones e análise de big data para prever e adaptar práticas agrícolas.

Práticas Sustentáveis: Incorporar práticas que promovam a saúde do solo, a biodiversidade e a conservação da água. Isso pode incluir o uso de culturas de cobertura, rotação de culturas e técnicas de conservação do solo.

Mudanças de Sistema: Reavaliar e modificar o próprio sistema de produção agrícola. Isso pode envolver a mudança para sistemas agroecológicos que integram a produção agrícola com a preservação ambiental, ou a adoção de práticas que considerem os ciclos naturais e o equilíbrio ecológico.

Participação e Educação: Envolver agricultores, técnicos e pesquisadores na criação e implementação de novas práticas. A educação e a formação contínua são essenciais para garantir que todos os envolvidos compreendam e adotem as mudanças necessárias.

Em resumo, a transformação dos sistemas de produção agrícola exige uma abordagem que vá além da eficiência e substituição. É necessário um redesenho que seja tanto aditivo quanto incremental, promovendo mudanças significativas e sustentáveis que possam enfrentar os desafios ambientais e produtivos de forma eficaz.

Essa reconfiguração apresenta desafios sociais e institucionais, bem como agrícolas. Em 2018, estimou-se que em cerca de 100 países, 163 milhões de propriedades rurais tinham atravessado uma importante área de substituição. O redesenho dos modelos de produção, utilizando métodos de Intensificação, atingiu uma área que se aproxima dos 453 milhões de hectares de terras agrícolas (isto equivale a 29% de todas as explorações agrícolas em todo o mundo e a 9% das terras agrícolas). A gestão de pragas exemplifica a necessidade de uma intervenção ativa contínua para a Intensificação: o trabalho nunca estará concluído, pois as condições ecológicas e econômicas mudarão e os agroecossistemas terão de ser adaptáveis para fornecer uma gama de serviços ecossistêmicos, incluindo não só a produção de alimentos, mas também a água e o solo, além da conservação e armazenamento de carbono no solo, reciclagem de nutrientes e controlo de pragas. A cooperação (ou pelo menos ações individuais que resultem coletivamente em benefícios aditivos ou sinérgico) é necessária para que a Intensificação tenha um impacto transformador em todas as propriedades. A cooperação é crucial para garantir que a Intensificação na agricultura tenha um impacto transformador e positivo.


Diniz Dias Dôliveira
Engenheiro Agrônomo
Associado da AEAPR-Curitiba
Titular da Comissão de Ética Profissional da AEAPR-Curitiba
Diretor de Extensão Rural do IDR-Paraná
Equipe de Extensão e Pesquisa do IDR-Paraná

*Texto que faz referência ao programa iniciado no Estado com envolvimento inicial o SEAGRI, IDR-Paraná, SANEPAR e municípios.